Os pombos invadem as janelas
cheias dos vultos tristes das mulheres.
Elas exibem exíguas roupas já estafadas
mesmo que ainda brilhem rastos
da antiga sedução.
O vento abre-lhes as narinas
com o cheiro dos frutos caídos
e os pensamentos correm pelo ar
mordidos
pungentes
impacientes como as formas dos corpos.
Sedadas pelos sons dos próprios gritos
as mulheres nas janelas despedaçam-se
e são insanamente levadas pelo ar.
Alongam-se no horizonte
na tinta roxa dos poentes
É no ar que a voz é solta
como uma lágrima de dor.
Margarida Piloto Garcia in-OPUS-4-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por TEMAS ORIGINAIS-2021
Pintura de Vicente Romero Redondo