Quantas gotas tem o mar?
Quantas ondas, quantas histórias?
As gaivotas são cicatrizes no horizonte
e o vento à minha volta espalha o sol
e corta o espaço como um bisturi.
O mar não é um poema de sábado à noite
nem um prazer de fim de semana.
Tem o peso da memória, o apelo do ventre
a marca indelével inscrita em quem sou
Se nele esticar os braços
os peixes poderão recitar poemas
enquanto os queixumes das algas
me lembram o insustentável peso dos anos.
Gemem as sereias num canto encantatório
enquanto guardam todos os que no mar
respiraram pela última vez.
E tudo começa e acaba aqui
tal como o rasto do primeiro amor.
Não é preciso gritar mesmo que os pulmões
rebentem para respirar a maresia.
Se eu pudesse contar tudo
nem todos os conquistadores ou os mártires
do mar, chegariam para impedir o naufrágio.
Margarida Piloto Garcia-in ALMA DE MAR-publicado por Chiado Books-2021
Pintura de Lylan Lee
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