É neste reencontro envergonhado
que
o meu corpo cabe e escuta
e
me transmuto e reinvento.
É
nesta febre que me firo
a
saliva engasgada a pulsar
a
saudade presa nos dentes.
À
superfície da pele
a
paixão não naufraga
enquanto
a onda de desejo
se
quebrar furiosa em mim.
O
que em mim renasce
é
do fogo que semeias
flor
e fruto proibido.
Mergulho
fundo neste reencontro
numa
apneia escura que me tolhe.
São
tão impronunciáveis
as
palavras que calamos
que
o medo súbito desagua
e
fere o que resta de nós.
Abandonada
nos braços da maresia
cinjo
as algas num silêncio aflito
e
dou-me aos cardumes
que
me mordem a pele.
Sigo
uma rota áspera
e
sou nómada de afetos.
Neste
reencontro e no avesso de tudo
ainda
brinco com o teu olhar.
Afinal,
é de ti que vou ter mais saudades.
© Margarida Piloto Garcia in CONEXÕES ATLÂNTICAS V-publicado por IN-FINITA 2020
© Imagem Marta Syrko