segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Dias









Os dias correm num espaço antigo

como um medo infantil de uma queda brusca.

A lágrima é a monotonia da água correndo

nos feriados do corpo, inútil de tanta espera.

Alguém me falou de felicidade e eu aceito

estar aqui enquanto os dias permanecem mudos

numa morfina que me invade as veias.


São duros os dias, mesmo quando não parecem

e a felicidade é um pássaro aceso em cada madrugada.

Já não os conto porque a vida é uma aposta perdida.


Escrevo sempre que preciso ignorar as mentiras

tal como uma lista de desejos

onde anoto as esperanças caducadas.

Com o tempo, afiei as palavras

e agora os dias apenas se instalam.



© Margarida  Piloto  Garcia 

in- " As palavras, rios de tantas águas "-publicado por IDEÁRIOS 2022



Foto de Daniel Arsham