Os dias correm num espaço antigo
como um medo infantil de uma queda brusca.
A lágrima é a monotonia da água correndo
nos feriados do corpo, inútil de tanta espera.
Alguém me falou de felicidade e eu aceito
estar aqui enquanto os dias permanecem mudos
numa morfina que me invade as veias.
São duros os dias, mesmo quando não parecem
e a felicidade é um pássaro aceso em cada madrugada.
Já não os conto porque a vida é uma aposta perdida.
Escrevo sempre que preciso ignorar as mentiras
tal como uma lista de desejos
onde anoto as esperanças caducadas.
Com o tempo, afiei as palavras
e agora os dias apenas se instalam.
© Margarida Piloto Garcia
in- " As palavras, rios de tantas águas "-publicado por IDEÁRIOS 2022
Foto de Daniel Arsham