Grassa a fome nas comissuras dos lábios
e na língua fala a semente do vício.
No entanto teimo em ir à boleia das vagas
enquanto o grito espreita num botão de camisa
desabotoado em rota encapelada de arrepios
na cicatriz nua dos olhos de uma fúria ausente
nas aspas de uma vida feita de raízes imóveis
a crescerem para dentro vermelhos naufragados.
E no poema cala-se a dor , a raiva, a luta
faz-se oco este lugar de silabas desperto
eternamente ansioso, febril e nunca saciado
na espera muda do que lhe pertence.
Margarida Piloto Garcia