domingo, 10 de julho de 2022

Espera





                                            Grassa a fome nas comissuras dos lábios

e na língua fala a semente do vício.

No entanto teimo em ir à boleia das vagas

enquanto o grito espreita num botão de camisa

desabotoado em rota encapelada de arrepios

na cicatriz nua dos olhos de uma fúria ausente

nas aspas de uma vida feita de raízes imóveis

a crescerem para dentro vermelhos naufragados.

E no poema cala-se a dor , a raiva, a luta

faz-se oco este lugar de silabas desperto

eternamente ansioso, febril e nunca saciado

na espera muda do que lhe pertence.




Margarida Piloto Garcia



 

1 comentário:

Anónimo disse...

Excelente!!!
Parabéns Margarida.