Antes que a luz quebrasse
a translúcida vidraça
já era bela aos olhos dele.
Tão bela que a distância
entre o real e o imaginário
se fundia nas frestas de luz
e se recompunha despudorada
nas sombras de um velho cão.
Acordavas os sons das ervas
no quintal e guardavas os vincos
na almofada vazia.
Depois desmantelaste-me
como um velho relógio.
Agora a minha ausência
é uma tempestade e uma sede
que te consome e não entendes.
Devias ter pensado nisso
quando me envolveste de escuridão
e deixaste de correr para os meus braços.
Margarida Piloto Garcia-in OPUS-5-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por TEMASORIGINAIS-2022