Que são os meses senão uma sucessão de dias
a correrem pelas curvas da estrada?
Afinal é comigo que as noites se matam
numa velocidade que me explode nas mãos.
Há tantas paixões a albergarem os meses quentes
todas necessárias para que a cicuta não se beba
a víbora não te morda ou o espaço não te cale
ou leve ao precipício.
Balanças, balanças, mas não cais
até que a vida avariada se cale
sem que alguém a conserte.
Nos meses frios ardes sozinha
porque o amor só te ensina a perder.
Os meses correm e voltam frequentemente
a acordar a memória do corpo
e a pré-história da pele e do desejo antigo.
É urgente passar a mão pelos cabelos
enquanto as hienas não surgem
e te cospem na cara que tudo já foi dito.
© Margarida Piloto Garcia-
in- " As palavras, rios de tantas águas "-publicado por IDEÁRIOS 2022
Foto de Dasha Pears