quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Meses






Que são os meses senão uma sucessão de dias

a correrem pelas curvas da estrada?

Afinal é comigo que as noites se matam

numa velocidade que me explode nas mãos.

Há tantas paixões a albergarem os meses quentes

todas necessárias para que a cicuta não se beba

a víbora não te morda ou o espaço não te cale

ou leve ao precipício.


Balanças, balanças, mas não cais

até que a vida avariada se cale

sem que alguém a conserte.

Nos meses frios ardes sozinha

porque o amor só te ensina a perder.


Os meses correm e voltam frequentemente

a acordar a memória do corpo

e a pré-história da pele e do desejo antigo.

É urgente passar a mão pelos cabelos

enquanto as hienas não surgem

e te cospem na cara que tudo já foi dito.




© Margarida Piloto Garcia-

 in- " As palavras, rios de tantas águas "-publicado por IDEÁRIOS 2022


Foto de Dasha Pears