O dia desperta quando te inclinas na janela
e vês o rio que te amarra ao desassossego
como um defeito de fabrico.
Sem que ninguém perceba agarras-te
às manhãs, mesmo que depois não suportes
a metamorfose dos dias.
Por vezes ficas imóvel, cheia de lágrimas
que já não são precárias e por isso
não correm como o rio que avistas da janela.
Os silêncios são apenas a recusa de viver
à mistura com o acorde perfeito de uma dor
que se ajusta ao corpo em espartilho apertado.
Crês que o que outros fizeram,
ou mesmo o que fizeste, foi a fome da malícia
a negritude do engano. Não sejas tola.
Debruça-te na janela e percebe a estupidez humana.

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