Tudo é frágil.
O silêncio no céu da boca
a arquitetura das palavras
as noites sem tempo
a esquálida memória
as facas sem remorsos.
Nada resiste nesta queda
feita de unhas e garras
quase voluptuosa na apneia
com que nos tolhe e enlaça.
Em câmara lenta esmagamos
os lugares aos quais permanecemos fiéis
e a sangue frio quebramos os laços
num último arrepio.
Este tempo incerto
tem a estrutura de milénios
e o falso entendimento dos homens.
Resta-nos guardar o sol no peito
e aprender a geometria da morte.
Margarida Piloto Garcia. in COLECTÂNEA TOCA A ESCREVER-2021-publicado por In-Finita
Foto de Andrew Binger