sábado, 1 de fevereiro de 2020

Beleza









O poeta deixa palavras carregadas em folhas brancas
ou até mesmo em guardanapos de papel.
O pintor eleva a ninfa anónima
a aparições que os homens disputam.
O escultor brande o cinzel
e transforma o mistério frio e impassível
na deusa ardente que nos emudece.
O fotógrafo, o cineasta, qualquer deles
procura o que germina dentro da pele
e sussurra pelas noites como um estalar de chicote.
Nos amantes há gestos presos e beijos inquietos
explosões feitas de estrelas cadentes
incêndios gemidos e sílabas selvagens.
Por aí, a natureza é um poema ávido
uma maçã carnuda a ser mordida plena de seiva
uma litania como um arpão de esperança
uma epifania de mil angústias
escritas através do tempo em velhos papiros.
Tudo é beleza, até mesmo os disparos certeiros
deste mundo pleno de insanidade.



© Margarida Piloto Garcia-OPUS-3-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por  TEMAS ORIGINAIS-2020