Não, não vou dizer guerra
falar de guerra, encher a boca
com a palavra guerra.
Eliminei-a de todos os dicionários
de todos os livros, de todas as enciclopédias.
Ostracizei a palavra em todas as línguas
e dialetos para que ninguém a pronuncie
a leia, a desenhe ou sequer a sonhe.
Não a fechei numa caixa, não a atirei ao mar
nem a mandei para o espaço.
Simplesmente fi-la desaparecer.
Como? Não me perguntem. Desapareceu
e o modo como o fiz fugiu-me da memória.
Agora as crianças não sabem o que é
os homens não a conseguem criar
e a imaginação libertou outras palavras
quentes e suaves e dentro de todos
numa teimosia frágil o amor renasceu.
Não, não vou negar como o passado
me tentou enganar, mas esta imensa escuridão
deixou-nos de mão dada e a alvorada já
não tem arrependimentos inesperados.
Margarida Piloto Garcia-in OPUS-5-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por TEMASORIGINAIS-2022
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