Há dias em que não me lembro de nada
sigo uma rota de crateras extintas
e vou construindo estações de pele e sal.
Alimento parábolas para fintar as horas
e peneirar as dúvidas cinzentas.
Lá fora a vida espera em gestos inventados
seguindo uma lei sálica que não sei quebrar.
As palavras não frutificam
no deserto da memória.
Este não é o meu mar
este não é o meu leito
esta não é por certo a minha vida.
Muito antes de temer os dias
nos solavancos da terra a prender os pés
muito aquém das gaiolas que se tornam
presenças diárias, entre as esquinas do sol
fui aprendendo a segurar as quedas.
As mágoas disfarçam-se num arroz doce
polvilhado de afetos gritantes.
Há que dizer que as mouras encantadas
são sempre desfeitas pelo destino.
Margarida Piloto Garcia-in OPUS-5-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por TEMASORIGINAIS-2022
Foto de Monia Merlo
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