Sou o sangue que te alimenta
a raiva que te ruge o entardecer
a ave que te debica os ossos
a cama vazia que te esqueceu.
Sou o adereço de uma peça teatral
o jogo entre a chuva e o sol
o ranger do sonho na distância
a escuridão sedenta de loucura.
Sou a espada e a flecha
um dia incompleto e sem fim.
Sou o espanto que te cala a solidão
e o sumo que te explode nos lábios.
Sou a tua rua palmilhada
e as minhas mãos pequenas agarram
os desesperos incómodos
quando a vida se agarra às urgências.
Sou tudo isso mas a preguiça
não me deixa mudar de rumo
e ata-me as lágrimas, a língua e os desejos.
Talvez a possa esvaziar de sangue e gritar.
Margarida Piloto Garcia in OPUS-5-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por TEMASORIGINAIS-2022
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