segunda-feira, 18 de abril de 2022

Neblina








Às vezes ainda espero ver-te o vulto

numa qualquer manhã de neblina.

O sol esconde-se no dia mascarado

e ainda há rumores de estrelas

nas palavras que não dizes.

Tenho um cheiro a laranjas nas mãos

e o meu corpo não sabe o que o espera.

Se calhar não sabemos mesmo nada

e na pureza da neblina somos cegos

a arquitetar vazios com vogais redondas.

Este teu vulto é um particípio passado

uma ferida virtual que vai desabar.

O amor calou-se e agora somos também

surdos e mudos, vazios e resignados

a pisarmos esperanças perdidas.

Vestimo-nos com arame e farpas

a esconder um coração morto

e o intolerável peso do corpo.


Amanhã volto para ver se há neblina

ou se o teu vulto adormeceu para sempre

nas ruínas da memória.



Margarida Piloto -GarciainOPUS-5-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por  TEMASORIGINAIS-2022


 

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