Eu vou morrer antes de ti
é o que diz o calendário e o sangue nas veias
caçador das últimas batidas
ou os ossos frágeis a lamberem o túrgido sol.
É esse o caminho
e o que está escrito nas rugas desarmadas
e inocentes, esgravatadas num tempo sem pudor
Eu vou morrer antes de ti
e isso não me diz a lua nem os astros
nem sequer o ar que sucumbe a cada respiração
Eu vou e quero que assim seja
mas fica tanto por dizer na teima cega de calar
na boca de pedra que só treme à tua ausência
ou na revolta que cabe no intervalo dos sentidos
Sei-o porque a vida se gasta aliviada de milagres
incontida como se a bebesse aos tragos
a fugir de ser domesticada
Eu sei que vou morrer antes de ti
mas é da tua solidão que tenho medo.
Margarida Piloto Garcia
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