Canta-me como se fosses um rouxinol
desvendando na tarde o eterno mistério
Dança-me em passos de fogo
num tango gemido e predador.
Colhe em mim o abraço lânguido
que te despe a pele e a cobiça.
Prende o meu beijo na tua boca nua
e arrasta as palavras nas papilas
num degustar febril.
Mas depois de me cantares e dançares
lavra-me com a tua língua peregrina
impúdica mas inocente.
Saliva-me as rotas que te conduzem
ao destino traçado.
Morde a eriçada penugem
banhada em rios de desejo.
Desagua em mim como se fosses cascata
como se fosses a criação do universo.
Usa dedos calibrados e perfeitos
para me desvendares.
Colhe na boca o pólen que semeiam
e deixa-me fazer de ti
um deus ou um escravo não importa.
Avança em mim como um conquistador.
Mas quando te desfizeres em ondas
despedaçadas e rítmicas
apenas gritarás o delírio do meu nome.
Margarida Piloto Garcia
Foto de Sasha van der Werf
Sem comentários:
Enviar um comentário