quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Coração de mulher





Um coração de mulher não se parte assim
ao relento sem chama ou vibração.
Primeiro mói-se o sangue na raiz do medo
roem-se os ossos da desgraça e espalham-se
ao vento ou nas ondas da praia.
Segundo enleiam-se os dedos delicados
ou ásperos desfiando rosários
nas mãos que amassam e cozem pão.
Em seguida quebram-se os braços
que acolhem filhos com fragilidades
embuçadas para estancarem as feridas
ou reinventam-se as bocas que beijam
rendidas mas nunca saciadas, os amantes.
Um coração de mulher parece doce e mudo
imprevisto no desespero e indecifrável
à luz da aurora quando morde a manhã.
Um coração de mulher arde na dor
mas não se parte ou estilhaça assim.
Um coração de mulher segue sempre
mesmo que em carne viva.


© Margarida Piloto Garcia- in- " A mulher no infinito dos tempos"-publicado por IDEÁRIOS 2020

Imagem © Sanne Sanne






1 comentário:

Siby disse...



Haz escrito un poema
muy hermoso, un gusto
poder apreciarlo.

Besitos dulces
Siby