segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Ar





AR

Os pombos invadem as janelas

cheias dos vultos tristes das mulheres.

Elas exibem exíguas roupas já estafadas

mesmo que ainda brilhem rastos

da antiga sedução.

O vento abre-lhes as narinas

com o cheiro dos frutos caídos

e os pensamentos correm pelo ar

mordidos

pungentes

impacientes como as formas dos corpos.

Sedadas pelos sons dos próprios gritos

as mulheres nas janelas despedaçam-se

e são insanamente levadas pelo ar.

Alongam-se no horizonte

na tinta roxa dos poentes


É no ar que a voz é solta

como uma lágrima de dor.




Margarida Piloto Garcia in-OPUS-4-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por  TEMAS ORIGINAIS-2021




Pintura de Vicente Romero Redondo


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