terça-feira, 7 de setembro de 2021

Água





ÁGUA


É ali que fica:

no fio condutor que a leva

das ondas salgadas ao curso dos rios.

Dos mares em que nunca mergulhou

retém o sonho emprestado,

tal como dos lagos escoceses frios e nublados.

Já os rios têm demasiadas pontes

que só a ligam ao passado.

Correm com intenção, furiosos ou calmos

num último destino, como a morte.


A água é o apelo imutável

a rota dos naufrágios da vida

a adição que lhe entra nas veias.

Os cabelos molhados são serpentes marinhas

ao redor de uma sereia desiludida.

Os cardumes anónimos bordam carícias

numa distopia íngreme e imaginativa.


Da água nasce uma danação

uma súplica pela verdade.

Parte dela repousará um dia nesse leito.


São os regressos ao princípio

que regem todos os finais.




Margarida Piloto Garciain-OPUS-4-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por  TEMASORIGINAIS-2021








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