ÁGUA
É ali que fica:
no fio condutor que a leva
das ondas salgadas ao curso dos rios.
Dos mares em que nunca mergulhou
retém o sonho emprestado,
tal como dos lagos escoceses frios e nublados.
Já os rios têm demasiadas pontes
que só a ligam ao passado.
Correm com intenção, furiosos ou calmos
num último destino, como a morte.
A água é o apelo imutável
a rota dos naufrágios da vida
a adição que lhe entra nas veias.
Os cabelos molhados são serpentes marinhas
ao redor de uma sereia desiludida.
Os cardumes anónimos bordam carícias
numa distopia íngreme e imaginativa.
Da água nasce uma danação
uma súplica pela verdade.
Parte dela repousará um dia nesse leito.
São os regressos ao princípio
que regem todos os finais.
Margarida Piloto Garciain-OPUS-4-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por TEMASORIGINAIS-2021
Sem comentários:
Enviar um comentário