segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Poema





O poema não tem carne a não ser a que deixas
destrambelhada no vício da cama ou da areia
tostada e com cheiro a maresia e a sexo selvagem
O poema rói-te as unhas até ao ventre
desassossega-te como um demente e cospe-te
dos lábios à garganta, enquanto os dedos sangram
quando escrevem e percorrem a tua pele.
O poema é uma amargura rezada que te possui
um cometa perdido num universo de palavras
uma dança esculpida que te faz estremecer
e estrebuchar , à boleia da loucura
O poema só tem carne quando lhe juntas alma
quando o lês e fazes teu, quando o devoras
e ele te revolve e te canta no peito
O poema só é poema quando nos deita
lado a lado.

© Margarida Piloto Garcia.

 

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