domingo, 23 de junho de 2019

Mulher







O que os olhos das mulheres dizem
tem o suspiro das feridas ligeiramente encobertas
com o nevoeiro das promessas.
O que os seus braços abraçam
são as opções de todas as batalhas femininas.
A suas bocas não falam só de amor
gritam enquanto se batem nesta selva.
Lá fora as crianças carregam sorrisos em bombas por explodir
e as mães lavam o sangue na areia onde as vergaram.
O medo não tem direito a beijos, nem a lágrimas apressadas
por isso as mulheres guardam-nos em cada ruga, em cada poro.
Sabem tudo mas engasgam as palavras porque o vento as devolve
por vezes em látegos de dor.
Amam na raiva e na meiguice. Estão no lado errado da lua
mas a luz explode nelas.
Intrometem-se, polinizam, abandonam-se e embriagam-se de amor.
Fecham as asas da crença mas intrépidas soltam-nas em alto voo.
Para falar de amor, as mulheres ajoelham-se como quem reza
porque dentro delas há sempre sonhos por cumprir.



© Margarida Piloto Garcia 
in- "OPUS-2"-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por  TEMAS ORIGINAIS-2019


© Foto de Christian Coigny

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