domingo, 23 de junho de 2019

Entre a noite e o dia







Basta acordar cedo e fugir aos dialetos noturnos.
O medo esconde-se nas sombras
e nos silêncios. É uma serpente a devorar a luz.
O dia vive temerário e brilha como sílica ao sol.
Nele, os poemas são menos fatais e as clausuras
são menos verdadeiras e insensatas.

Não há leis nem teoremas que te ajudem
quando morres atropelada pelos sonhos.
Em qualquer estação do ano, a vida
é uma promessa imperfeita, uma construção
a desmoronar-se desde o passado.

Há uma morte repetida em cada dia
um revolver apontado à cabeça,
um apelo que guardamos por dentro
a tornar-se peso, a tornar-se sombra,
a respirar fundo feito veneno.





© Margarida Piloto Garcia in-"SOB EPíGRAFE"-TRIBUTO A SOPHIA DE MELLO BREYNER- publicado por TEMAS ORIGINAIS- 2019

Sem comentários: