Não
me escrevas.
Peço-te
que não me escrevas.
Proíbo-te
mesmo de me escreveres.
Afinal,
a verdade nunca é a verdade.
Há
inúmeras versões com o mesmo destino
irrepetível
e abandonado, como coisa usada.
Não
me escrevas.
A
memória do corpo é coisa antiga
que
tu acordas nas palavras. E quando a pele
se
lembra, anseia pelo lume e tu não ardes.
As
hienas chegam e riem das palavras
enquanto
devoram a saudade.
Não
me escrevas.
Não
me lembres o momento em que o amor morreu
ou
mesmo a chacina que a vida fez por aí.
Faço
um esforço para aceitar as vozes que rasgam
pulsos
e cravam facas no peito e insone
esmago
sonhos nos vidros das janelas.
Posso
aceitar o abismo
a
penumbra dos lugares e até mesmo
a
inutilidade da vida.
Mas
por favor, não me escrevas.
© Margarida Piloto Garcia in "IDEÁRIOS" publicado por A CHAMA 2019
© Arte fotográfica de Marysia Bieniaszewska
1 comentário:
Brilhante poetisa. É deslumbrante e de sonho os poemas do seu ser extraordinário. Adorei. Parabéns. No mais elevado respeito. Fique bem. Pena
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