Chove.
Chove
há muito, mesmo que faça sol.
Chove
desde o dia em que deixei de ver as nuvens
penduradas
na janela a fingir horizonte.
Encurralada
entre sombras, não meço distâncias
nem
descubro gestos.
Onde
a noite se deita, mascaro o amor de pedra
polindo
as arestas mas cobrindo as feridas com sal.
As
manhãs são sempre negras ou é a minha cegueira
que
insiste em esconder o sol.
Chove.
Chove
sempre que te relembro, mesmo que tenha
feito
sol, mesmo que a primavera despontasse em mim.
É
fundamental que as grilhetas não entrem no sangue
e
as feridas não infetem com as memórias.
O
que importa é que a ausência seja o tempo do nada
o
tempo da cegueira.
© Margarida Piloto Garcia in "IDEÁRIOS" publicado por A CHAMA 2019
© Foto de Georges Dambier
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