Nas rebeldes madeixas
de corvos de asas negras,
gotas de chuva serpenteiam.
Ela, é estatua de pedra silenciada
guarida onde a tristeza fez o ninho.
As gaivotas esvoaçam-lhe
a vida ressequida
e gritam-lhe
as lembranças do passado.
O mar lhe trouxe o amor
e o levou,
ardendo-lhe a alma
em pira fúnebre.
Os olhos tão cinzentos,
bordados de orlas escuras violáceas,
reflectem o sentir das ondas verdes
e das marés que lhe encheram o ventre.
Neles se escreveram
linhas tortas de vida,
como se de um manuscrito se tratasse.
Só a boca rubra
não esqueceu,
os rituais de amor tornado dor,
a saudade, as mágoas, o carpir.
Na espuma que lhe morde os pés
escreve devagarinho,
em letra antiga,
um último poema.
Margarida Piloto Garcia
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