sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Fado





Sombrias noites de luas escurecidas
sem luar.
Flashes de luzes despóticas
que impedem de te abraçar.
Traumas de vida...corrente,
na penumbra de um olhar.
E entre abraços e carícias
as caravelas percorrem, velas enfunando ao vento,
toda esta tremenda vida, ungida no verbo amar.
Amar, querer, possuir,
escolhos num mar de emoções.
O verbo é apenas um e vem de dentro de nós.
Algas enredam-te a vida
em tramas de renda negra.

E a ausência é uma paixão
de caminhos percorridos e de medos perturbados.

Coroas de espinhos despertam gemidos na tua voz,
cravados nas minhas mãos.
Falta o alento do ser-se,
um olhar que nos percorre.
São dedos frios que nos mentem,
que nos tolhem,
que nos colhem.
De tão fremente essa boca, destila raros sabores,
torna-se em mim um tormento, uma sina, uma voz.

É quase um fado vadio quando apareces na esquina.
Escondo envergonhada a voz que cala o grito voraz.
Explodem ondas no olhar,
ancoram almas perdidas.
Arquitectas Babilónias feitas de teias de aranha.
Rasgo-as em passos de dança
para as poder percorrer,
bebê-las em devaneios
sem nunca me saciar...

E quando as tardes me ferem
e me suspiram a alma, numa cadência de morte,
são as sombrias noites que te trazem
em minutos de desordem
num caos quase perfeito.



Margarida Piloto Garcia


Foto de Paolo Roversi



2 comentários:

Anónimo disse...

É triste este teu fado.Dá-nos um pouco mais de alegria.Desculpa mas também tu tens nos teus pomas muito lamento

VMNC

Maria disse...

Lindo seu fado, traz a essência da alma lusitana.
Mas hoje passei aqui só pra te deixar um beijinho