quinta-feira, 11 de julho de 2013

Pedido em três tempos





Pediste-me que te dissessse que te amava.
Cá dentro havia febre como água a correr
vontade que a garganta se abrisse
e que as palavras pressurosas
saíssem  mesmo que atropeladas.
Queria gritar em mãos cheias
de vibrações, o que o corpo não calava
nas ondas azuis e ansiadas
de uma juventude crepitante.
Mas eu ainda mal aprendera o nome das palavras
 que apenas me permitia murmurar.

Pediste-me que te dissesse que te amava.
Não precisavas, não precisaste nunca.
“Amo-te” era uma ladaínha
que eu orava no teu corpo
mãos em cadências raras
toda eu em devota adoração.
“Amo-te” não tinha hora ou dia
ressoava mesmo nos silêncios
em que tu não estavas
ou formava um rosário de pérolas
a escorrer da minha boca
para tudo o que eras tu.

Pediste-me que te dissesse que te amava.
E eu tremi no dia quente
sentindo o frio de um vampiro
procurando-me o sangue.
Queria escorregar na tua pele
lambendo nela a palavra desejada.
Mas agora não há força que me faça
descerrar os lábios
nem cavalos selvagens
à desfilada no meu corpo.
Não quero atar-te numa mentira cega
e o que me pedes não encontra espaço
para ti, no meu vocabulário.
Mergulho o olhar no horizonte
e apenas te abraço.


© Margarida Piloto Garcia


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