Ando à procura de ti.
Meti-me nesta saga, armada de um espírito de
conquista e descoberta, a cabeça cheia de sonhos quase inatingíveis. Ainda não
percebi porque tenho este anseio frenético de almejar o ideal. Quem sou eu
afinal neste mundo transgénico e longe das lendas arquitectadas em criança?
Dia 2
10,30h
Tu chegas. A passada larga como que te percorre de
alto a baixo, subindo-te pelo corpo até aos cabelos revoltos. No meu louco
devaneio esqueço-te o fato de bom corte e vejo em direção a mim, um guerreiro
viking de armadura reluzente. Fico emudecida no acalento de um corpo a
despertar ansiedades. Tento ser realista e ver-te tal como és, de carne e osso,
mas ser moura encantada é mais forte do que eu.
12,30h
Ao fim de 2 horas, tenho estampado em mim os restos
calcinados da ilusão. Parecias um deus mas não te consegui navegar na voz, nem
perceber-te um sentido de vida. Tanta futilidade, tantos rasgos de vida
material, tanto que faria as delícias de alguém que não fosse eu.
Eu...esta
mente em alvoroço, este corpo feito de aragem perfumada, das areias quentes de
um deserto à espera dessa água que me mitigue a sede sem nunca me saciar.
Dia 8
Procuro-te nas praças, nos areais a parir lonjura e
paixões ardentes. Tento encontrar-te no aroma de um café, no apelo de um
quadro, no raio de sol que lambe a face.
A insistência deste apelo torna-me frenética, ameaça
desnudar-me as paixões e ânsias em qualquer praça pública, incita a minha
loucura a desbravar e transpor os
limites que a vida me ensinou.
Se os aceitei foi numa mentira que forjei para mim
mesma, para continuar a demanda sem que me venham trazer leis encapotadas de
palavras mornas e mansas.
Dia 12
14,30h
Olho-te numa demora escrutinadora. Extraordinário
como as palavras te fluem num discurso carismático. Ambos sabemos como fazê-las
entoar deliciosos trilos que se insinuam em nós como punhais.
Permaneço num langor que me esvai, enquanto a tua
mão enceta uma rota rumo ao meu corpo e a tua boca se aproxima num fôlego a
partilhar.
Cerro os olhos ao sol que foge no horizonte,
tentando embalar-me na cadência do que dizes. Não quero abri-los para descobrir
enganos e tornar prosaica a poesia do que
já dissemos.
Inútil! De súbito gelo, numa recusa que me emudece,
quando num arrepiado e consciente momento me apercebo da ausência da
fisicalidade entre nós.
Se antes condenava o sonho, agora arrependo-me da
realidade que acabo de sentir.
Dia 21
Os dias passam num atar de nós de incertezas e
buscas permanentes.
Existirá aquele que me pode trazer o festim do amor
que o meu imaginário almeja?
Dia 25
18h
À medida que me lanças um daqueles sorrisos de
menino, tento sondar-te e ver para além
do que os teus olhos me dizem. Não acredito em olhares, desconfio da sua
veracidade. Sei que por vezes traem, são teatrais e escondem nebulosos
segredos.
Lembrava-me dos teus de há alguns anos e do que
sempre julguei saber deles. Talvez eu afinal não soubesse tanto assim, e fosse
apenas a minha imaginação que me incapacitasse de um juízo fiel.
Mas continuas a agradar-me com o teu corpo esguio a tentar cingir o meu,
os teus lábios frementes, que antes da busca dos meus, tentam dizer palavras
que sabes de antemão o meu intelecto te exige.
Estás perante mim e eu penso, num ardil que lanço a
mim própria, se a busca terminou.
Escondido atrás da porta o amor hesita, e à laia de
um cupido ladino e ardiloso, pisca-me o olho e abana a cabeça.
Ainda não...
© Margarida Piloto Garcia
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