A contabilidade de Setembro
chega como a última tempestade de verão.
Negas-me a sede do esquecimento
enquanto as marés vivas se jogam na praia
e eu me preparo para o afeto amarfanhado
rasgado pelos ladrões de sonhos que me devoram
a vida.
Setembro tem esta febre que me consome
numa interminável e alucinante indiscrição.
Sinto que caminho no vazio
numa voracidade enigmática que me arrasta
entre algas e que já não sei ver.
As minhas mãos desenham linhas circulares
na areia fresca.
Sei que continuo a respirar mesmo neste
lugar incerto onde a metafísica do sangue
se imiscui na água salgada.
E depois detonas em tempo certo
© Margarida Piloto Garcia-in ANTOLOGIA DE POESIA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA"Entre o sono e o sonho"-Volume XIV
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