quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Setembro



A contabilidade de Setembro

chega como a última tempestade de verão.

Negas-me a sede do esquecimento

enquanto as marés vivas se jogam na praia

e eu me preparo para o afeto amarfanhado

rasgado pelos ladrões de sonhos que me devoram

a vida.

Setembro tem esta febre que me consome

numa interminável e alucinante indiscrição.

Sinto que caminho no vazio

numa voracidade enigmática que me arrasta

entre algas e que já não sei ver.

As minhas mãos desenham linhas circulares

na areia fresca.

Sei que continuo a respirar mesmo neste

lugar incerto onde a metafísica do sangue

se imiscui na água salgada.


E depois detonas em tempo certo

o meu coração partido.


 © Margarida Piloto Garcia-in ANTOLOGIA DE POESIA PORTUGUESA CONTEMPORÂNEA"Entre o sono e o sonho"-Volume XIV


 

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