quinta-feira, 16 de maio de 2019

Fio de prumo





Sentava-se como se um fio de prumo
lhe atravessasse o corpo adivinhando-lhe os contornos
perdendo-se no sexo maduro a disfarçar gemidos.
Não lhe cresciam asas porque os punhais eram antigos
e tinham nomes de demónios.
As boas memórias rolavam como fome espinha acima,
tentando deitá-la onde as palavras eram leito.
Ela agarrava-se ao fio de prumo até a pele
seguir em frente, deixando-a só, a roer o instinto.
Tentou correr mas tiraram-lhe os abraços umbilicais
engoliram-lhe a boca com beijos adiados
plantaram-lhe mentiras nos seios feitos estrada
Nas horas densas acorrenta-se no silêncio e nos gomos
de pequenas felicidades que come com desejo.
Não morreu ainda, o fio de prumo retesa-a
estica-lhe o coração até ao impossível, por isso sabe.

 © Margarida Piloto Garcia in- OPUS-2-Selecta de poesia em Língua Portuguesa- publicado por  TEMAS ORIGINAIS-2019



© Foto de Jovana Rikalo



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