terça-feira, 7 de maio de 2013

Tanto e tão pouco








Sabes-me sempre a pouco
quando chegas com os teus olhos de espanto
e a boca sôfrega a desvendar a minha.
Os teus cabelos cheiram profundamente a sol
e atam com nós trémulos a paixão que carrego.
Deixo uma lágrima morna
beijar-me os cantos da boca que já só sabe à tua.
Misturo-a com a saliva numa alquimia pagã
enquanto o teu corpo me dita húmidas pressas.
Abraças-me como um mar de sargaços.
Enleada em ti sou apenas uma pequena flor
a proteger-se do vento das palavras que me cantas.
Das tuas mãos espero sempre a vida celebrada
quando me tornas tua e emudeces.
Não quero que me saibas de cor.
Apenas que te surpreendas sempre
e renasças para me redescobrir mais uma vez.
E de gazela estonteada e débil
torno-me loba nos luares da vida
para poder ser presa e predadora.
Em mim deixas sempre uma urgência
que receio não calar.
Por isso, mesmo que não consigas debelar
esta fome de ti
o pouco que me dás sabe-me a tanto.


© Margarida Piloto Garcia-in A ESSÊNCIA DOS SENTIDOS I-publicado por EDIÇÕES PAULA OZ-2013

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