“ Assim fremente e nua, a luz só pode ser dos girassóis. “
Eugénio de Andrade in “O outro nome da terra.”
O
comboio leva-me e carrega os meus sonhos.
Num
constante rolar o meu olhar atinge os campos
e
os campos devolvem-me esse olhar.
Não
sinto, porque sinto tanto que matei o sentir.
O
comboio rola e leva-me à cidade onde me perco
e
onde amo cada pequeno passo, dado sozinha ou ao teu lado.
Essa
cidade vai-me abraçar e corroer a vida de paixão.
A
beleza dela é uma epifania e um esplendor
que
tu escangalhas quando me desfazes a alma.
Esse
ego monstruoso esconde a tua fragilidade
e
é por ela que me detestas
porque
eu a sei, porque eu a sinto.
Mas
a cidade ainda está longe e eu já antecipei a dor
sublimada
em pequenos prazeres que me alucinam.
Estava
a tentar deixar correr os olhos
no
tremor do amarelo da paisagem.
E
vejo-me solta, uma silhueta em alvoroço, cabelo ao vento
rodeada
do dourado que me fere os olhos.
Tento
não olhar, não sentir que corro através das flores
que
me atraem e me chamam.
E
de repente vejo, são girassóis, imensos, ondulantes
fazendo-me
o apelo.
Sou
transportada a uma selva louca de pétalas
que
me prendem mais do que me afagam.
E
é isso mesmo que se crava em mim, o sentimento da minha
invisibilidade.
Margarida Piloto Garcia in- Sob Epígrafe. Tributo a Eugénio de Andrade, publicado por TEMAS ORIGINAIS, 2023
Arte de Paul Schilliger
4 comentários:
Os girassóis podem ser cegos , mas são lindos!
Assim a vida com as suas dificuldades... mas linda linda!
Fiquei contente com este regresso...lindo!
Antes os girassóis lindos que a frieza das cidades!
Os girassóis até rodam para nos verem!
ah ... de volta à poesia !!! Que bom !!!
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