Esperança
É preciso reinventar o léxico dos afetos
e o brilho dos dias.
Dar às margaridas a febre primaveril
da paixão solar.
Encher de púrpura os olhos
e entardecê-los nas tardes
que se quebram na paisagem.
Seguir como pássaros exuberantes
ao longo dos rios
o corpo a cansar-se nas margens
ou a brotar felicidade na relva fresca
e a refulgir desejo e vertigem
como uma fera enfurecida.
A noite não pode mais beber as veias
e deixar que a vida se afaste.
Mesmo que o sorriso seja frágil
e as pálpebras doam
as mãos dadas têm de resistir
e abraçar o coração.
Margarida Piloto Garcia in- NO CALOR DA POESIA; A ESPERANÇA-publicado por Edições Vieira da Silva 2021
Arte de Valeria Amer
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