domingo, 12 de julho de 2020

Promessa








Já te contei
que atravessei a linha do comboio
e me deitei nas azedas amarelas
para fugir da morte?
Por isso resolvi
que vou tentar morrer sossegada
sem fazer barulho
sem estilhaçar espelhos
sem rasgar livros
sem ferir os punhos nas paredes.
Tão de leve e silenciosamente
que se assemelhe a um sono profundo
onde ninguém está.
A solidão já é um hábito tão velho
que ganhou raízes e impregnou a pele.
Os meus olhos cansaram-se
a minha boca recusou-se
os meus braços cerraram-se de vez.
As Evas são assim, resilientes
mas sedutoras, a cheirar a baunilha e limão
passionárias que não podem ser sombras
e explodem no sol de qualquer revolução.

O único problema é que as mulheres
não morrem assim, devagar e sem dor.
As mulheres amam e vivem para sempre.




© Margarida Piloto Garcia in- " A mulher no infinito dos tempos"-publicado por IDEÁRIOS 2020

© Foto de  Andreas H. Bitesnich 



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