Já te contei
que
atravessei a linha do comboio
e
me deitei nas azedas amarelas
para
fugir da morte?
Por
isso resolvi
que
vou tentar morrer sossegada
sem
fazer barulho
sem
estilhaçar espelhos
sem
rasgar livros
sem
ferir os punhos nas paredes.
Tão
de leve e silenciosamente
que
se assemelhe a um sono profundo
onde
ninguém está.
A
solidão já é um hábito tão velho
que
ganhou raízes e impregnou a pele.
Os
meus olhos cansaram-se
a
minha boca recusou-se
os
meus braços cerraram-se de vez.
As
Evas são assim, resilientes
mas
sedutoras, a cheirar a baunilha e limão
passionárias
que não podem ser sombras
e
explodem no sol de qualquer revolução.
O
único problema é que as mulheres
não
morrem assim, devagar e sem dor.
As
mulheres amam e vivem para sempre.
© Margarida Piloto Garcia in- " A mulher no infinito dos tempos"-publicado por IDEÁRIOS 2020
© Foto de Andreas H. Bitesnich
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