sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sorriso




Dás-me um sorriso azul, feito de um mundo deslumbrante que não houve, carente de afectos e ternuras.As crianças têm esse sorriso, mas o teu, parece ainda mais ingénuo e esconde uma tristeza que se entranha e nos atrai como uma lua pálida.
Todas as noites escorrego de mansinho pela tua cama, abraço o teu corpo e sinto-o meu.Mas não descerro os olhos para não me aperceber da tua ausência.Que força me empurra, que poder me esmaga, a ponto da falta de uma palavra tua, ser a privação do ar que respiro?Tento varrer fantasmas para arranjar espaço para me emprestares os teus, e sigo murmurando ladaínhas.
Dás-me um sorriso azul e eu vergo, alquebro, bamboleando palavras cegas.


Margarida Piloto Garcia-in NÓS POETAS EDITAMOS-vol II-2013



Pintura de Richard Burlet






5 comentários:

mz disse...

A ternura de uma ausência tão próxima. Tão bonito, tão sentido, tão triste...

S* disse...

Dizem que os olhos espelham a alma... Mas um sorriso verdadeiro pode ser um verdadeiro elixir de felicidade.

Susana Garcia Ferreira disse...

tão bom sorrisos.É interessante essa do sorriso azul mas sim é capaz de ser um tom giro para colorir o sorriso.
beijocas

Nilson Barcelli disse...

Há mundos que não são deslumbrantes, mas deslumbram.
Tudo depende de nós, das nossas atitudes, sejam elas meros sonhos ou realidades.
Mas a consciência da ausência, sendo definitiva, pode fazer-nos vergar à realidade...
Magnífico poema querida amiga. Ler-te, é sempre um prazer para os sentidos, nomeadamente no "absorver" das sensações que emites com as tuas palavras e na forma como as estruturas.
Boa semana, beijo.

Anónimo disse...

Penso saber o que se sente, obrigada por o exprimires tão precisamente