segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Deixa




Deixa.
Não te espero mais.
Larguei as fímbrias de mim mesma na calçada
despojos de um EU enlouquecido.

Calcorreei-as tanto numa luta insana!
Busca desenfreada de fiapos,
névoas de letárgicos entardeceres.

Salpico as paredes de palavras,
soltas
despojadas de vida.

Lambendo-me em labaredas,
sufoco no gemido desse querer,
que transformas em água cintilante.

Deixa
deixa mesmo de tentar explicar.
Danças esse teu orgulho nos sussurros do meu corpo.
Moldas-me a alma
com palavras afiadas e esgrimidas.
Tropeço nas tuas pedras, polidas como a calçada.

Ferem-me todos esses requebros de mentira.

A cama em que me deito,
magoa a minha vida.
Quero feri-la como os gestos com que danço,
mas voo em ziguezagues...estropiada.
A ferida aberta não se cala mais.
E o grito deixa livre este meu eu.
Crucificada em êxtase, mas exposta ao vento,
liberdade drogada em esquecimento.

Ignoras o meu rosto...
E eu cruzo assustada mais um dia.

Desespero a espera e rasgo sem pudor as minhas horas.
Mas é inevitável a escolha desgarrada.
A gota do orvalho não vai molhar os lábios numa qualquer manhã.

Por isso...
Deixa lá.
Deixa.

Margarida Piloto Garcia



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