domingo, 14 de março de 2010

Poeta




Tenho um poeta
que me canta versos navalhados
plenos de êxtases e de mágoas
deixando em mim uma marca feroz.
Nas esquinas do meu desejo
entrelaçam-se rotas em carne viva
gritadas loucas ao vento suão.
O meu poeta
é uma ave madrugando as palavras
cheirando-me o cabelo em sussurros.
Inquieta, corro por entre os sons desenhados
sem saber o que fazer com a eternidade dos sentidos.
Ficam agrestes e soluçantes
as arestas do meu pensamento
um caudal de emoções em lava abrupta.
Nas marés vivas do que escreve
há raios pranteados de luar
caminhos secretos e paixões.
Este poeta que me morde os flancos
e me rasga a roupa
traz sinfonias incompletas ao meu desespero.
Cega o meus olhos de corça
enche o meu ventre de mel
e pinta a minha boca de cobiças.
E assustada fujo
estropiada na embriaguez dos versos.


Margarida Piloto Garcia in-POESIA SEM GAVETAS-PARTE I-publicado por PASTELARIA ESTUDIOS EDITORA-2013






3 comentários:

vitor correia disse...

Não é só mais um poema teu.É outra manifestação de tanta virtuosidade que tens na tua escrita.Bem composto e de certeza muito sentido."cega os meus olhos de corça....."Diz-nos algo de muito íntimo que dificilmente transportarás para a realidade.Um beijo e a minha gratidão ,por me dares o prazer sem limites de te ler

Nilson Barcelli disse...

Fizeste mais um poema notável.
Há versos que são uma delícia para o leitos.
Exemplo:
"Este poeta que me morde os flancos
e me rasga a roupa
traz sinfonias incompletas ao meu desespero.
Cega o meus olhos de corça
enche o meu ventre de mel
e pinta a minha boca de cobiças."
Margarida, não é qualquer poeta que escreve assim...
Querida amiga, bom fim de semana.
Beijos.

graça sena disse...

Belo poema, visceral. Gosto da incompletude das sinfonias. Evoé!