1º
anúncio:
“
Homem jovem e pronto, precisa-se. “
O
suspiro arranca-lhe um som agudo do peito. Agita-se. Estremece. Aquela força
desabrida que mais parece um urro, sacode-a de uma ponta à outra. Sente um
sufoco inusitado, uma espécie de febre galopante, que lhe arde nos poros e na
raiz dos cabelos.
Anda
em frente ao espelho, medindo-se e calculando a avidez do corpo. A impaciência
que lhe grassa no sangue torna-a explosiva, rebenta-lhe chispas nos olhos.
Desinquieta-lhe as mãos, cava-lhe anseios no ventre.
Levanta-se,
senta-se, volta a erguer-se. Espreita pela janela ruídos de uma festa
domingueira e lambe os lábios, no gosto ousado, que retira das imagens de ancas sacudidas nos
corpos que passam.
A
certa altura não hesita. Lança-se rua fora num passo corrido, ao encontro do
que sabe que a espera.
Não
olha a nada quando se atira nos braços dele, no pequeno escritório clean e sem
aromas.
Ele
tem a força de uma juventude rude mas sábia e vivida. Mordisca-a e beija-a,
põe-lhe o corpo aos gritos, aos soluços, possui-a sem demoras, espalmando-lhe
os seios na parede que ela arranha, enquanto atrás de si o macho acutilante a
devasta em paroxismo.
É
daquilo que precisa, daquele vigor primitivo a calcar-lhe aos pés o pensamento,
deixando apenas uma fêmea em cio.
Quando
tudo acaba, não são necessárias palavras ou gestos inúteis.
2º
anúncio
“
Homem maduro e competente, procura-se.”
Precisa
de um café.
Sai,
de ombros descobertos ao sol ainda morno e levemente rosado.
Sentada
na mesa debaixo da sombra da amendoeira, vê-o aproximar-se.
O
encontro marcado é só para deixar as palavras rolarem, mas elas afagam-lhe os
braços e os seios como mãos famintas.
Como
uma aranha tece a teia e sente-o estremecer sem contudo se tentar libertar.
Foi
tão fácil, que ela já só lhe sorri e pousa a mão na perna, firmando os cinco
dedos como tentáculos, tentando passar-lhe as impressões digitais através das
calças, da pele, do músculo fremente até ao osso.
Rapidamente
combinam um local. No caminho banalizam a conversa, enquanto ele lhe diz que
gosta das coisas devagar e sem pressão.
Ela
ouve-o desatenta, como se tudo o que ele diz não passe de um anúncio célere e
papagueado, no meio das canções que uma rádio vai debitando e ela entoa
baixinho, a mente em apoteose delirante do que se seguirá.
Sente-se
estranha quando entra no quarto, como se o desejo que a revestia tivesse
estalado como uma frágil capa de verniz.
Afasta
o pensamento quando as mãos do homem a começam a acariciar.
De
repente, a única coisa que ela consegue ver, é aquela masculinidade dirigida a
ela.
Lembra-se
de que ele não quer pressas mas neste momento isso não lhe interessa.
A
sua curiosidade vai direita ao que ele, nu, ostenta vigorosamente entre as
pernas e que ela acha quase obscenamente notável, digno de um qualquer filme
porno onde a história e o diálogo são meros acessórios.
E
é isso que ali se passa. Tudo o mais é dispensável e supérfluo, a não ser
aquela vontade dela de que ele a devore, a preencha, a faça vergar numa súplica
por mais.
Tem
receio perante o que viu, mas o corpo diz-lhe que o desejo é tão grande que
tudo permite.
Primeiro
deixa-o ser rei e senhor mas depois cavalga-o como uma selvagem agarrada às
crinas de um cavalo por domar. Usa-o, desfruta-o, deixa-o a arquejar quase
violentado mas plenamente saciado.
A
tarde cai em roxos entumecidos.
3º
anúncio
“Jovem
à procura de dominadora, necessita-se.”
O
cabelo negro balança-lhe na face incendiada, envolvendo-a num aroma a pespontar-lhe agulhas no sexo a escaldar.
Guia
lentamente no crepúsculo que quase se esvai naquele princípio de noite quente e
pecaminosa.
O
vulto do jovem cruza-lhe a mente e as palavras que ele costuma proferir são uma
espécie de choque quase impossível de suportar.
Tão
jovem, tão delgado, um querubim que a endeusa e lhe pede lascivamente que o
consuma.
Céus,
nunca se sentiu assim tão poderosa, o prazer a entrar-lhe pelas veias como uma
droga potente! Ela é a deusa debaixo da qual ele ora, sucumbe e soluça,
gritando por mais, enquanto ela lhe transgride o corpo com o objecto que a
masculiniza.
Nunca pensou percorrer tal caminho mas a
luxúria poderosa que deles se apossa fá-la vibrar como um diapasão demasiado
sensível.
Ele
já entrou na idade adulta como uma criança viciada e de um modo burlesco e
quase dantesco, é isso que o torna tão apetecível.
Espera
por ele perto do jardim, faróis apagados e a respiração ofegante a tingir os
vidros de uma supuração lacrimejante.
Ele
está quase aí...sabe-o.
4º
anúncio
“
Procuram-se sensações de luxúria, venham de onde vierem.”
Já
trocaram palavras e textos e há um encantamento dourado no que ele lhe escreve.
Revolta-lhe o sentir, esgrime-lhe a alma com estocadas ardentes mas tão
sub-reptícias quanto certeiras.
Ela
não quer aquilo. Os sentimentos são um estorvo que a impedem de usufruir em
pleno da devastação que o prazer carnal lhe provoca.
De
momento não tem como escapar aos efeitos daquela voz quente e sensual que a
atira para incontáveis êxtases, que a faz cerrar as pernas com força e soltar
gemidos quase uivados.
Está
um dia fulgurante, quente e grávido do perfume pungente das acácias. O beijo
dele é doce de mirtilo, canela e gengibre, quase obsceno de tão escancarado,
provocante e indagador.
Rende-lhe
os ombros desnudos na blusa negra e arrendada. Rende-lhe os seios meio ocultos
no soutien bordado. Rende-se toda quando ele a dobra e lhe invade, em beijos de
língua, o baixo-ventre exposto àquela tempestade.
O
vento engole-lhe os ais, quando se atira pela janela aberta a fazer dançar os
cortinados brancos.
A
porta fecha-se repentinamente, ocultando parcialmente a voz de Antony Hegarty
que naquele tom que só ele possui a impede de pensar no seu desejo, na sua
fúria de controle, na paixão única de obter prazer a qualquer custo.
Aquele
acto deixou de ser puramente sexual. Foi maculada a luxúria crua e aditiva que
a movia até agora.
Ele
faz amor com ela, pede mas também dá, submete-se numa fragilidade cativante,
mas oferta-lhe algo que ela sempre se negou.
De
repente sabe-se pequena e exposta, o coração a querer dizer coisas que não são
banais, as palavras ácidas e brutais que o sexo lhe dita, substituídas por
outras, doces e caramelizadas, inebriada por algo que nada tem a ver com o
corpo.
Quando
tudo acaba, quer ficar nos seus braços e esse pensamento aterroriza-a e fá-la
sufocar no pânico que dela se apodera.
Sai
de casa dele a apagar desesperadamente a memória daquele local.
Nunca
mais lá volta. O amor não faz parte da equação. Há coisas que não se podem
deixar assim, abandonar de repente, sob pena de nos arrancarem um pedaço.
É
tão mais fácil um rumo de prazer, sem que o coração peça meças e venha
embrulhar a vida.
Tem
que esquecer, seguir, matar o vício, uma, duas, muitas vezes.
Amanhã
é dia de novo anúncio.
© Margarida Piloto Garcia in- 7 PECADOS MORTAIS-publicado por PASTELARIA ESTÚDIOS EDITORA-2013