domingo, 17 de novembro de 2013

Declaração




Declaro que te espero
nos dias em que a chuva me mitiga o fogo
nas noites em que o corpo em rebuliço
se entretém em danças e litanias solitárias.
Não venhas se me temes
ou se a tua fornalha não anseia pelo meu mar interno.
Tenho em mim a telúrica força de uma valquíria
e ouso defrontar o teu guerreiro altivo de canto rouco
e a tua espada acesa a queimar-me desde a boca
até ao vórtice onde o desejo renasce
num devorar repetitivo e lancinante.
Declaro que te espero
e sempre te esperei.
Esta música da pele tem um travo doce de devaneio juvenil
e a carência vivida das inclementes horas.
Declaro que te quero
assim, neste final que chega manso e louco.
Por isso
antes que os deuses te roubem ao insano desejo
vem.


© Margarida Piloto Garcia-in A ESSÊNCIA DOS SENTIDOS I-publicado por EDIÇÕES PAULA OZ-2013


2 comentários:

Bird disse...

A gente percebe o desejo reprimido do eu lírico. É algo forte e avassalador.

Anónimo disse...

como sempre é intenso!!!
augusto