quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Amor




Amo-te na língua de Camões
naquela que nos fez correr mundo e ser aventureiros.
Amo-te em francês
em inglês, em farsi ou urdu.
Amo-te no árabe das noites de deserto
debaixo de um céu a rebentar-nos estrelas nos olhos.
Ich liebe dich de encontro aos tijolos do que resta do Muro de Berlim
e je t’aime nas ruas de Montparnasse na primavera parisiense.
Amo-te em mandarim, em japonês e em checo.
Juntamos os rios e desaguamos numa foz de paz e ternura
após termos galgado vivos e apaixonados as cataratas do Niagara.
Não importa se somos Amazonas, Tejo ou Mississipi
apenas os dedos sabem o percurso do rio.
Te quiero nas ruas de Buenos Aires, num tango lascivo a escorrer
leite e mel e a deixar na boca o sabor da pele em chamas.
Beijo-te em mil línguas numa Babel aleggro ma non troppo
a deixar embeber o meu ritmo no teu.
O beijo soa em coreano sem ponto cardeal a separá-lo
em dinamarquês ou hebraico, apenas beijo com a única língua
que conheço e domino. E essa é minha mas pode também
ser tua, num encontro onde o mundo derruba as barreiras.
Numa esplanada aqui ou nos antípodas
numa praia onde só a areia sabe desenhar-nos os corpos
simplesmente amo-te  na linguagem universal do amor.



© Margarida Piloto Garcia in "VI ANTOLOGIA DE POETAS LUSÓFONOS"-publicado por FOLHETO EDIÇÕES-2014



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