Amo-te na língua de Camões
naquela que nos fez correr mundo e ser aventureiros.
Amo-te em francês
em inglês, em farsi ou urdu.
Amo-te no árabe das noites de deserto
debaixo de um céu a rebentar-nos estrelas nos olhos.
Ich liebe dich de encontro aos tijolos do que resta
do Muro de Berlim
e je t’aime nas ruas de Montparnasse na primavera
parisiense.
Amo-te em mandarim, em japonês e em checo.
Juntamos os rios e desaguamos numa foz de paz e
ternura
após termos galgado vivos e apaixonados as cataratas
do Niagara.
Não importa se somos Amazonas, Tejo ou Mississipi
apenas os dedos sabem o percurso do rio.
Te quiero nas ruas de Buenos Aires, num tango
lascivo a escorrer
leite e mel e a deixar na boca o sabor da pele em
chamas.
Beijo-te em mil línguas numa Babel aleggro ma non
troppo
a deixar embeber o meu ritmo no teu.
O beijo soa em coreano sem ponto cardeal a separá-lo
em dinamarquês ou hebraico, apenas beijo com a única
língua
que conheço e domino. E essa é minha mas pode também
ser tua, num encontro onde o mundo derruba as
barreiras.
Numa esplanada aqui ou nos antípodas
numa praia onde só a areia sabe desenhar-nos os
corpos
simplesmente amo-te
na linguagem universal do amor.© Margarida Piloto Garcia in "VI ANTOLOGIA DE POETAS LUSÓFONOS"-publicado por FOLHETO EDIÇÕES-2014
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