domingo, 14 de julho de 2013

Busca




Ando à procura de ti.
Meti-me nesta saga, armada de um espírito de conquista e descoberta, a cabeça cheia de sonhos quase inatingíveis. Ainda não percebi porque tenho este anseio frenético de almejar o ideal. Quem sou eu afinal neste mundo transgénico e longe das lendas arquitectadas em criança?
Dia 2

10,30h
Tu chegas. A passada larga como que te percorre de alto a baixo, subindo-te pelo corpo até aos cabelos revoltos. No meu louco devaneio esqueço-te o fato de bom corte e vejo em direção a mim, um guerreiro viking de armadura reluzente. Fico emudecida no acalento de um corpo a despertar ansiedades. Tento ser realista e ver-te tal como és, de carne e osso, mas ser moura encantada é mais forte do que eu.
12,30h
Ao fim de 2 horas, tenho estampado em mim os restos calcinados da ilusão. Parecias um deus mas não te consegui navegar na voz, nem perceber-te um sentido de vida. Tanta futilidade, tantos rasgos de vida material, tanto que faria as delícias de alguém que não fosse eu.
 Eu...esta mente em alvoroço, este corpo feito de aragem perfumada, das areias quentes de um deserto à espera dessa água que me mitigue a sede sem nunca me saciar.
Dia 8

Procuro-te nas praças, nos areais a parir lonjura e paixões ardentes. Tento encontrar-te no aroma de um café, no apelo de um quadro, no raio de sol que lambe a face.
A insistência deste apelo torna-me frenética, ameaça desnudar-me as paixões e ânsias em qualquer praça pública, incita a minha loucura a desbravar e transpor  os limites que a vida me ensinou.
Se os aceitei foi numa mentira que forjei para mim mesma, para continuar a demanda sem que me venham trazer leis encapotadas de palavras mornas e mansas.
Dia 12

14,30h
Olho-te numa demora escrutinadora. Extraordinário como as palavras te fluem num discurso carismático. Ambos sabemos como fazê-las entoar deliciosos trilos que se insinuam em nós como punhais.
Permaneço num langor que me esvai, enquanto a tua mão enceta uma rota rumo ao meu corpo e a tua boca se aproxima num fôlego a partilhar.
Cerro os olhos ao sol que foge no horizonte, tentando embalar-me na cadência do que dizes. Não quero abri-los para descobrir enganos  e tornar prosaica a poesia do que já dissemos.
Inútil! De súbito gelo, numa recusa que me emudece, quando num arrepiado e consciente momento me apercebo da ausência da fisicalidade entre nós.
Se antes condenava o sonho, agora arrependo-me da realidade que acabo de sentir.
Dia 21

Os dias passam num atar de nós de incertezas e buscas permanentes.
Existirá aquele que me pode trazer o festim do amor que o meu imaginário almeja?
Dia 25

18h
À medida que me lanças um daqueles sorrisos de menino, tento sondar-te  e ver para além do que os teus olhos me dizem. Não acredito em olhares, desconfio da sua veracidade. Sei que por vezes traem, são teatrais e escondem nebulosos segredos.
Lembrava-me dos teus de há alguns anos e do que sempre julguei saber deles. Talvez eu afinal não soubesse tanto assim, e fosse apenas a minha imaginação que me incapacitasse de um juízo fiel.
Mas continuas a agradar-me  com o teu corpo esguio a tentar cingir o meu, os teus lábios frementes, que antes da busca dos meus, tentam dizer palavras que sabes de antemão o meu intelecto te exige.
Estás perante mim e eu penso, num ardil que lanço a mim própria, se a busca terminou.
Escondido atrás da porta o amor hesita, e à laia de um cupido ladino e ardiloso, pisca-me o olho e abana a cabeça.
Ainda não...


© Margarida Piloto Garcia



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