quarta-feira, 17 de abril de 2013

Sem palavras






Pelas pontas dos dedos
as palavras não escorrem.
Recusam-se a caminhar nuas
a despir-se para mim.
Os meus olhos não as transbordam
teimam em calá-las num brilho aquoso
a esconder constelações.

Num silêncio que me come por dentro
caminho devagar na sombra que deixaste.
As palavras não morreram
prendem-me com os nós que não soubemos dar.

E é neste duro enleio
que te sinto, mas te apago,
te devoro e minto.
Eu guardo a pressa de um amor aflito
tu, jazendo a meus pés já nada sendo.

A minha saia dançando
a minha roupa em voo
no rasgo alucinado da asa da gaivota.
Meu corpo amanhecido
rubro ventre
seiva que o teu navio implorante guarda.

Mas de encontro às minhas coxas de cetim
há muito naufragaste
enterrando o sentir neste meu mar profundo.
E as palavras que te impediriam de partir
eu não as soube então
nem nunca as saberei.


© Margarida Piloto Garcia-in PALAVRAS DE CRISTAL-publicado por MODOCROMIA-2013

Web -art de Yolanda Botelho



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