sábado, 2 de fevereiro de 2013

Surreal



Tragam-me uma faca afiada
e eu vou cortar a lua em fatias translúcidas.
Vou decepar o canto aos noitibós
e rasgar as tendas erguidas nesta selva.
Com a lâmina fresca e sedenta
abro em mim os silêncios amordaçados
faço escorrer as purulentas dores
e escondo a vida por trás de portas blindadas.
Então, nós de veludo darão à vida
sabores amanteigados, doces e escorregadios.
Talvez eu odeie e tema o que é cortante
mas sabe-me a fruto proibido, a paixão consumada
o modo como as lâminas devoram as palavras
e as desenham em sangue no papel.
Mas a ilusão tem preço
e em todos os recantos espreitam marcianos
que tamborilam como anjos maus.
Do paraíso cai apenas uma pena negra
que se enleia na faca afiada
e se aconchega no meu seio.

Margarida Piloto Garcia-in POÉTICA III- publicado por EDITORIAL MINERVA-2013




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