quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Final



Não tenho mais palavras.
Gastei-as no fundo da tua boca.
Fiz com elas ondas salgadas com que te penteei os cabelos
e te lavei o corpo.
Nas tuas meigas mãos depositei-as
e deixei que me descobrisses os segredos
e me percorresses em vagas de paixão.
Entre nós havia um raio de sol sempre a pôr-se no horizonte
e tu cobrias a minha pele de flutuantes carícias
só visíveis aos olhos dos deuses, das montanhas e dos mares.
Hoje gastei as palavras nas pegadas deixadas na areia
e na tua boca não escrevo mais poemas de amor.

Margarida Piloto Garcia in-PALAVRAS DE CRISTAL-publicado por MODOCROMIA-2013





5 comentários:

mfc disse...

Um poema duma desilusão que nos toca!
A perfeição e a beleza também podem ser tristes...

Um beijo.

vitor correia disse...

Poema de grande sensibilidade e com enorme carga poética.Mais uma vez belo uso das palavras .Um beijo

RZorpa disse...

A palavra segura-nos o tempo, envelhece-o em nossas mãos, ali, onde sentimos a ilusão, de que tudo seria nosso para sempre... E é, porque nos sobrevive, como vemos neste poema, cheio e rico!

RZorpa disse...

A palavra retem em nossas mãos o tempo, que envelhece...
Na ilusão de que tudo será para sempre nosso, temo-las como a confirmação dessa posse interior...
Este poema prova-o!

RZorpa disse...

A palavra segura-nos o tempo, envelhece-o em nossas mãos, ali, onde sentimos a ilusão, de que tudo seria nosso para sempre... E é, porque nos sobrevive, como vemos neste poema, cheio e rico!