quinta-feira, 22 de abril de 2010

Grito







Venho dizer-te
que eu sou eu
e nunca ninguém poderá ser eu.
Trago um pássaro no peito
que se agita e estremece
cravando-me garras aguçadas.
Sei que não compreendes
o labirinto que a minha língua percorre
mas hoje os minotauros fugiram do meu sonho.
Se tenho olhos de corça
foi porque amordacei paixões e lhes calei a voz.
Agora canto silêncios
e estendo-os no luar da vida.
Confesso-te esta alma inquieta
feita de marés e remoinhos
mas não quero ver-me no espelho dos teus olhos.
Aqui onde me encontro
cobri de aço a alma rasgada
tranquei-a para sempre no meu eu.
Flutuo sem pensamentos
até que o pássaro nada sinta.

Mas eu sou eu
e até que me dilua na cinza universal
vou deixar rastos no teu corpo.


Margarida Piloto Garcia in- POESIA SEM GAVETAS-PARTE I-publicado por PASTELARIA ESTUDIOS EDITORA

Arte de Delawer




1 comentário:

Anónimo disse...

Chega-me às entranhas.Há momentos belos na vida.E tu dás-nos muitos.Um beijinho com carinho