Deixa.
Não te espero mais.
Larguei as fímbrias de mim mesma na calçada
despojos de um EU enlouquecido.
Calcorreei-as tanto numa luta insana!
Busca desenfreada de fiapos,
névoas de letárgicos entardeceres.
Salpico as paredes de palavras,
soltas
despojadas de vida.
Lambendo-me em labaredas,
sufoco no gemido desse querer,
que transformas em água cintilante.
Deixa
deixa mesmo de tentar explicar.
Danças esse teu orgulho nos sussurros do meu corpo.
Moldas-me a alma
com palavras afiadas e esgrimidas.
Tropeço nas tuas pedras, polidas como a calçada.
Ferem-me todos esses requebros de mentira.
A cama em que me deito,
magoa a minha vida.
Quero feri-la como os gestos com que danço,
mas voo em ziguezagues...estropiada.
A ferida aberta não se cala mais.
E o grito deixa livre este meu eu.
Crucificada em êxtase, mas exposta ao vento,
liberdade drogada em esquecimento.
Ignoras o meu rosto...
E eu cruzo assustada mais um dia.
Desespero a espera e rasgo sem pudor as minhas horas.
Mas é inevitável a escolha desgarrada.
A gota do orvalho não vai molhar os lábios numa qualquer manhã.
Trazes o sol a acompanhar-te o rasto
os tons púrpura e laranja escondem-te o rosto.
O meu coração estremece correndo...
chita na savana imensa.
Chega-me o teu odor, mistura da selva, das crianças,
eivado do perfume que é só teu e se me entranha na pele.
Trazes o sorriso dos angustiados
e o cansaço de não conseguir mais.
Hoje não estive contigo, a mão cerrada na tua.
Mal tive tempo para um beijo fugaz, roçando os lábios.
Mas agora, na noite quente e plena de ruídos sussurrantes,
tu surges como o anjo alado que esperei todo o dia.
Esperaram outras mulheres,
cada coração na prece aprendida ou imaginada.
Caio nos teus braços e o beijo agora é mais profundo,
mais quente que a noite doce e melodiosa.
Comes
conversas
planeias.
Sorris no calor das fogueiras acesas e atiçadas.
Danças comigo até que os corpos ardam de prazer.
Os sons batucados tornam-se vorazes.
Recolhemos ao refúgio só nosso.
Contas em voz cansada mas profunda as lágrimas do dia.
Eu relato-te as minhas.
Banho-te delicadamente por entre suspiros e abraços,
molhando-me a roupa num frenesim que exige mais.
Quando a aurora chegar teremos toda a noite sido UM
almas e corpos fundidos na vida que cala, grita e estremece,
não mais deixando de nos presentear com o milagre
Não me posso chegar à tua beira
sem que me estremeças
com as teias com que me teces os cabelos.
Biombos ondulantes
cortinas da vida, ocultam-me.
Não me consigo ver
nos espelhos enlutados
com os panos que os cobrem.
Sinto-me embriagada
em sonhos vividos nas margens de um rio.
Tudo o que posso dar
são mãos estendidas em trémulas manhãs.
Como um algoz
chegam visões de uma praia
de águas azuis, quentes e doces,
de um pequeno café fugindo do sol tórrido
de uma limonada refrescante.
Vende-se uma ilha, anuncia o cartaz.
E a mente galopa
num onírico quase psicadélico.
Pergunto-me porque me teces os cabelos
porque os entranças de mágoas
geradas em tardes deslumbrantes.
Quero chegar-me à tua beira
mas o frio tolhe-me e a escuridão cerca-me
porque faz tempo que partimos.
A minha lágrima escorre nessa tua pestana.
Escondo novamente o meu olhar,
só porque me detenho nuns lábios de que sei o gosto.
Deslizo num slide inebriante pela risca da tua camisa.
Reconheço o padrão,
sinto-lhe a textura sem sequer lhe tocar.
As minhas mãos brincam um perigoso jogo...
Porque receio tocar-te.
Mas sinto no beijo quebrado do teu adeus, que nunca voltarás.
Não sei como entender-me.
Nem porque teimo em estropiar-me.
Queria mesmo era não sentir essa garra...
Inevitável!
Repetes o discurso intermitente,
da culpa sem desculpa.
Já não o quero ouvir porque o gravei há muito,
na minha pele
na minha alma
na ferida que teima em não sarar.
Mantenho a compostura ,
quando o meu olhar se detém nas tuas ancas.
Procuro a aterradora memória em mim gravada.
Não quero recordar tudo o que não esqueci.
Nego a evidência, vezes sem conta.
Tenho medo que a vida me demonstre,
o grito que voraz me começou a devorar.
Tento fugir a tanto não que tu proferes.
Fujo rua abaixo, morta por dentro.
Hoje
o leito era uma cela.
Procurei
no silêncio a fome insatisfeita
e soube
que precisava da alma espraiada mar fora sem
desertos depressivos, sem cobardias disfarçadas. Consegui
de uma forma tola
erguer-me
cambaleante e não desistir
nem
me perder nos verões que me feriram. A
lágrima que escorregou, já a lambi e
mesmo sem te ter provado, sabe-me a ti. Tens
de saber a terra, a mar, a especiarias. O
teu corpo há-de ter o gosto almiscarado de
tudo o que é raro e exótico.
Não
me importa se assim não for.
Tu
és a minha flor de sal.
Quero
desenhar com a boca a tua tatuagem quero
conhecer o teu íntimo mais recôndito.
Bom, assumamos, não há como negar. Não cabemos ambos no mesmo papel. Traças esquadrias tão exactas, que necessito ousar para transgredir e nem tentas acreditar num futuro mais-que-perfeito. O imperativo domina a tua vida e desliza numa subreptícia carícia para o meu.
Não sei vestir essa farda de combatente por uma felicidade básica e linear.Talvez num quase autista comportamento, quero dizer quem sou, negando-o.
Difícil compreender como uma folha de papel se mantém branca como uma barreira intransponível.
Vejo por detrás os vultos do imaginário porque a realidade é apenas ficção, traços abstractos num labirinto sem saída.
Será pecado acreditar? Então eu confesso a pura essência desse mal em mim.Consome-me eu sei, disseca-me todos os dias.Sinto-me autopsiada pela vida, numa mesa de aço estéril.
Rasguei as últimas páginas de vida emudecida.Mas os meus gestos são espirais num disco de vinil, ranhuras porque me movo quando julgo saber tudo aquilo de que preciso.Oiço-te, numa voz gravada em mim e imagino-te.Mas somo os dias pelos dedos de uma só mão e mais uma vez abro a Caixa de Pandora.
Essa visão elitista e hedonista do sei quem sou, confunde-me.Há palavras que me rolam na boca como um duro rebuçado.Desenrolei esse papel brilhante e barulhento do doce anónimo, mas não descubro segredos e sabores.
A folha de papel ainda é branca e escorrega nas minhas mãos.Penso nos esboços que desejo desenhar mas, cerebralmente, são equações que surgem.Por detrás dos olhos estendem-se cruzes pueris de um qualquer jogo do galo.Mas são origamis de papel virgem e branco que consigo construir.
Dizes sim, digo não.Afirmo, tu negas.Recuas e avanças numa coreografia que não entendo.A vida torna-se uma cacofonia sem o menor sentido, uma Torre de Babel onde me perco.
Esqueci os sonhos da noite passada para assumir no dia de hoje, a incompreensão e a ruptura.
Por muitas voltas que dê, não sei mesmo como cabermos ambos no mesmo papel.