terça-feira, 28 de julho de 2009

Crepúsculo



Deixa que a noite caia.
Sem pôr de sol ensanguentado
Sem brisas de promessas
Sem velas acesas
sombreando as paredes com chicotadas ébrias.
Deixa que a noite caia
e devagar se aniche nos corações aflitos.
Os pensamentos esfomeados
roem por dentro a vida
e tudo o que pintaste numa tela virgem
são borrões demoníacos
traços rasgados e sem sentido.
A ferida que vais talhando em ti
não pode ser fechada
e dela escorre a vida a pouco e pouco.
Deixa que a noite caia.
Encosta a cabeça na parede nua
e saboreia o último suor.
Já não sabes construir mais pontes
para esse castelo inexpugnável.
Cada segundo é uma bala
alojada bem fundo num corpo partido
sem amanhãs que o consertem.
Portanto não esperes
e solta as amarras que gemendo
prendem a vida numa tosca sátira.
Não vivas sonhos gastos
que o amanhã nunca trará.
E porque a luz do dia te assassina
com a raiva da ilusão
fecha os olhos vazios e apenas
deixa que a noite caia.

Margarida Piloto Garcia in- PALAVRAS DE CRISTAL-publicado por MODOCROMIA-2013

Foto de Alofredo Ventura de Sousa







8 comentários:

Unknown disse...

Margarida,que beleza!Grande poema!!Você conhece o "poesia todo dia' do blog Fio de Ariadne?Seria uma ótima oportunidade para que mais brasileiros pudessem conhecer uma poeta de primeira-você.Vá lá no http://fio-de-ariadne.blogspot.com e fale com Vanessa.Sua poesia me inspira,minha querida.Grande abraço!

vitor correia disse...

Com uma força e uma intensidade ainda mais forte do que todos os outros textos e poemas ,com que nos deixas com uma lágrima furtiva nos olhos.Gostaria de ter palavras mais eloquentes para te demonstrar ,toda a emoção que este poema me transmite.Continuo a dizer que é uma perda muito grande para a escassa literatura poética, da nossa praça,que não sejas aproveitada. Por mim terás sempre o meu obrigado por me maravilhares desta forma.Grande beijo e grande abraço com toda a amizade e fraternidade

continuando assim... disse...

adorei a força ao correr das emoções :)

mz disse...

Sempre muito profunda e sentida...

:.tossan® disse...

Gostei muito da poesia! Amarras nunca mais! Beijo

Lília Abreu disse...

Lindo poema Margarida!
Obrigada pela tua participação no conto. Muita sensibilidade, mesmo. Olha fiz referência a vocês no conto "Nabos".
Beijinhos e carinho
Lília

Pena disse...

Adorava que vivesse sem "amarras".
Um poema incisivo. Directo. De sinceridade.
"...Portanto não esperes
e solta as amarras que gemendo
prendem a vida numa tosca sátira.
Não vivas sonhos gastos
que o amanhã nunca trará.
E porque a luz do dia te assassina
com a raiva da ilusão
fecha os olhos vazios e apenas
deixa que a noite caia..."

Realmente, inspire-se na noite.
É uma bela poetiza.
A intenção do poema?
Não sei, mas sei que em si existe uma dor que a "magoa" imenso...
Força. Uma excelente escolha.
Com respeito. Gostei de ler.


pena

OBRIGADO pela sua simpatia e amizade.

Germano Viana Xavier disse...

Retribuo as palavras de apreço, Margarida.

Que continuemos a construir palavras e versos bons.

CArinho sincero.
Sigamos...