quarta-feira, 3 de junho de 2009

Memória




Naquele dia
reinventaste a vida.
Com que magia me feriste?
Os teus olhos eram brasas ardentes
e eu queimei nesse ardor.
Falaste a língua primitiva
dos homens e mulheres que amam.
Horas e horas que pareceram
apenas um relâmpago.
Vibrações e cicios
correram entre nós,
lampejos cintilantes e febris.
No teu sorriso brilhava
a sofreguidão de um beijo
e novamente a língua dos amantes
movia-se entre nós mas sem se ouvir.
Na pele palpitante
corriam rios de desejo
e o corpo sussurrava.
Naquele dia
a loucura implodiu em nós.
Tudo se subverteu e se moldou
num hino a algo louco e belo.
O branco era mais branco
reluzente e chamativo,
tal como a blusa que me emoldurava
e onde tombavam feridos um ou dois caracóis.
O ar carregava de estática
os corpos flexíveis.
Algures em meu redor
as cores viravam magenta
com um toque de cinabre.
Naquele dia
os deuses enlouqueceram
e nós, simples mortais,
não passámos de barro
moldado caprichosamente.
Não havia barreiras
fronteiras
algemas entre nós.
O beijo fez
os corpos embaterem
fundiram-nos.
Foi sôfrego, voraz,
canibalesco.
Transformou-nos em tochas a arder
em fogo de artifício inconsequente.
Tudo era atávico
tão primitivo como o primeiro homem.
Naquele dia renascemos
fomos cometas, supernovas, buracos negros.
Embriagados num turbilhão
ascendemos a alturas nunca imaginadas.
Fomos lava ardente
oásis num deserto
arcanjos de asas negras.
Nada nos afastava
na atracção magnética.

Naquele dia quando tu partiste
levaste-me colada à tua pele.



Margarida Piloto Garcia



8 comentários:

Unknown disse...

Lindo poema ,Margarida.Sua visão lírica da realidade toca em pontos sensíveis do amor e da vida.Parabéns e um abraço.

Elaine Gaspareto disse...

Olá!
Margarida, bom dia!!!
Lindo poema!
Se bem que aí já deve ser quase boa tarde, né?
Beijos.

KA disse...

Margarida,
Passei para conhecer seu blog e agradecer a visita!
Lindo poema!
Abs
Ka - Café na tiffanys

Beatriz disse...

Singelo poema.
Obrigada demosntrar seu interesse em participar e por trazer o selo da blogagem coletiva , A polêmica das drogas, hoje.
Creio que vc saberá escrever texto relevante sobre o tema. Aguardo sua participação , assim como a presença do selo aqui, coisa indispensável pra blogagem coletiva e sua divulgação.

Abraços
Bea- Compulsão Diária

Nilson Barcelli disse...

Gostei da sua poesia.
É muito boa.

Bom fim de semana.

Beatriz disse...

Margarida,
è que há um truque perdido em cada romance. É interno, sem gesto, quase em transe , e no momento preciso revela-se efêmero como tudo que certo e erra...;)))
Memória é lindo

BAR DO BARDO disse...

Margarida, olá!

Poema, atavicamente, feito com a penumbra do Indizível e os sóis da felicidade amorosa...

Particularmente, gostei (dentre outras) da imagem "O branco era mais branco / reluzente e chamativo, / tal como a blusa que me emoldurava / e onde tombavam feridos um ou dois caracóis." Lirismo do jeitinho que eu amo.

Parabéns!

- Henrique Pimenta

mfc disse...

Um poema que se lê com todos os sentidos em alerta.
Muito bonito e bem escrito.