Ela move devagar cada partícula,cada grão de areia
que lhe acaricia a pele.
Suave e fresca a areia fina e fria do despertar matinal
provoca-lhe sensações dispersas,
acordando-a para a realidade de um novo dia.
No entanto ela não deseja acordar.
Fecha os olhos e inspira a maresia sensual
que o ar evola de cada onda.
Pela cabeça passam-lhe
todas as imagens lúdicas e intensamente vividas
de instantes mágicos e inebriantes.
O corpo acaricia novamente a areia.
Deixa uma poalha escorrer entre os dedos finos.
Mãos e pés, extremidades sensitivas
apoderam-se de cada pequeno e ínfimo pormenor
da carícia.
É uma frescura inusitada, uma paixão moldada
pelo encontro entre o frio de cada grão de areia
e o suave calor da sua pele.
Nada mais importa no momento
a não ser
esse desvirginar do areal
no primeiro toque de um novo amor
num novo ciclo primaveril.
Abre os olhos
consciente de que é a única na praia deserta.
Neste momento nada existe do quotidiano
buliçoso e barulhento.
As notas do dia a dia foram apagadas
pela hora matinal e pelo seu casulo
povoado de sonhos.
Um leve sorriso paira-lhe nos lábios.
Sorri de si mesma, da sua vida. das memórias, dos desejos.
Aos poucos o sorriso morre-lhe nos lábios.
Porque os lábios desejam
e a fome dos desejos é em si mesma devoradora.
Tenta não pensar
e deixa que o mar a absorva e de certo modo
a subjugue.
O grasnido de uma gaivota
percorre-a de repente e desperta-a para o mundo.
O corpo estremece, os olhos descerram e os lábios tremem.
Toda ela é sacudida pelo turbilhão da vida
pelo desejo de absorver todos os cheiros
e os sons que a rodeiam.
Busca desesperadamente
regressar à redoma que construíu
ao embrião em que se tinha tornado
num contacto osmótico
com a frieza da areia da praia.
Mas é demasiado tarde!
Neste momento retrai-se
porque a areia aquece, os sons estendem-se
e o isolamento desfaz-se.
Levanta-se e caminha.
Ainda continua a ser um ponto no areal
uma pedra rolada nos beijos lambidos
das ondas que morrem e mordem a praia.
Mas a sensualidade felina do espreguiçar
na areia
e o isolamento em si,
como que se quebrou.
Luta consigo mesma
contra a paixão que a quer assolar
e devolver à vida.
Sabe de antemão que vai perder a batalha
que o seu corpo e a sua mente
a vão inundar de vida
e embriagar de emoções.
Deseja-o tanto quanto o repele!
A paixão é dor e sofrimento
mas faz parte de si, do seu eu maior, intrínseco e imutável.
Cede à vida, cede ao desejo, cede à realidade.
No fundo
guarda um segredo que lhe arrebata
o coração.
Ela sabe
que amanhã o areal ainda frio e macio
tão intocado quanto um primeiro amor...
espera por ela.
Margarida Piloto Garcia
2 comentários:
Deixas no ar uma incógnita melodia de extase .O sabor do amor é sem dúvida o mel produzido por flores com o teu nome. Margaridas
Vmnc
Olá! Confesso que já há algum tempo não faço visitas aos blogs. Vários problemas me têm impedido. Aguardo a resolução de aspectos importantes da minha vida para poder continuar a visitar os amigos. Foi um prazer te-la na minha pág azul. Assim, como foi um grato prazer deliciar o olhar na sua escrita, reparei que estamos juntas em alguns sites.
Beijo azul
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